quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Oportunidade sustentável

 As empresas estão abrindo espaço para quem se dedica a entender de sustentabilidade

Stephanie Theuer, 24 anos, da Econergy, em Belo Horizonte: negociação dos créditos de carbono
















Todos os dias a engenheira paulistana Stephanie Theuer, de 24 anos, sai de casa para salvar o mundo. Ao menos é assim que ela se sente ao ir para o trabalho na Econergy, empresa que atua com projetos de venda de créditos de carbono, com escritório em Belo Horizonte.
Esse é um mercado em que há negociação entre companhias de países que se comprometeram com o Protocolo de Kyoto, assinado por 189 nações, a reduzir em 5% as emissões mundiais de gás carbônico. Quem não atinge a meta tem a chance de comprar créditos de outros países que já desenvolveram projetos e reduziram suas emissões.
Stephanie trabalha na área de captação de projetos e fechamento de contratos com empresas que querem desenvolver práticas sustentáveis. "Vim para fazer um estágio e passar alguns meses, já que sustentabilidade não era o meu foco, mas me apaixonei pelo assunto e não pretendo sair daqui." Ela até passou a ministrar palestras sobre créditos de carbono no Brasil e no exterior depois que começou a trabalhar na área.
A carreira de Stephanie está deixando de ser uma raridade. O próprio conceito de sustentabilidade também. Aliás, está em tudo quanto é anúncio de empresa- até daquelas que não têm a mínima noção do que isso significa.
É natural esse interesse maior das companhias pelo tema, por consciência ou necessidade de mercado. Por conseqüência, qualquer profissional que queira crescer e ter oportunidades hoje precisa incluir essa idéia em seu dia-a-dia de trabalho.
Não estamos falando de reciclagem de lixo.Uma empresa sustentável não é aquela que apenas reaproveita água. É a que, além disso, tem uma postura ética e de colaboração em relação a comunidade, clientes, funcionários e fornecedores.
Do mesmo jeito, não basta economizar papel para ser um profissional sustentável. É preciso manter uma postura de respeito à diversidade, ao meio ambiente, aos valores da comunidade. Inclui até usar bem o dinheiro que você ganha.

SEM MODISMOS
Estabelecer ações sustentáveis e duradouras entre as empresas e quem gira em torno delas é uma das funções que os novos profissionais da área têm pela frente. Iniciativas que não devem ser passageiras nem parecer guiadas por modismos.
Simplesmente porque resultam de um fato que se tornou impossível de ignorar."Há dez anos, sustentabilidade era um assunto importante, mas visto como uma forma romântica de mobilização. Hoje é urgente e está baseado no consenso da mudança climática", diz o cientista político Sérgio Abranches, diretor da O Eco, organização não-governamental ligada à melhoria das condições ambientais, e professor do Instituto Coppead de Administração da UFRJ. Em outras palavras, é agir rapidamente ou ver os recursos naturais desaparecerem em poucas décadas.
Por ora, o que parte das empresas faz é criar áreas responsáveis pelas ações de sustentabilidade e cidadania empresarial. Ou elege profissionais de diversos departamentos para cuidar do assunto e incluir a pauta nas metas de negócios.
É justamente essa mudança que está criando um novo mercado para quem se interessa pelo assunto. A Serasa, empresa que faz análise de crédito, criou um departamento para implantar práticas sustentáveis na companhia, onde trabalham 113 pessoas com deficiência.

"A área começou há oito anos, com o nome de Responsabilidade Social, e agora engloba a Gestão da Cultura Organizacional", diz Tomás Carmona, gerente do departamento.
A Takaoka Empreendimentos, do mercado de construção civil em São Paulo, também criou uma área para difundir os conceitos de sustentabilidade em seus corredores. Um comitê formado por três pessoas, dois engenheiros civis e um ambientalista, trabalha com consultorias ambientais para a implantação de novos projetos de condomínios residenciais sustentáveis.
Algumas das ações adotadas foram o plantio de 150 mil árvores num condomínio, uso de madeira certificada e uma estação de tratamento de esgoto capaz de devolver ao meio ambiente água limpa o suficiente para ser tratada convencionalmente e tornar-se potável.

INVISTA EM FORMAÇÃO
Para se tornar um especialista no assunto e conseguir papel de destaque na empresa, é preciso mais do que interesse."Tem que acreditar, ter vivência, prática e bagagem", diz Tomás, que tem o objetivo de inserir o conceito em todas as áreas da Serasa. Por isso, Tomás trabalha com cientistas sociais, psicólogos e analistas. "Fazer cursos é importante porque cria networking e permite conviver com pessoas da área", diz.
A Fundação Getulio Vargas de São Paulo oferece um curso de dois anos que engloba 16 disciplinas e forma cerca de 30 alunos por turma desde 2005. Geralmente, os inscritos, entre 30 e 40 anos, trabalham no setor privado, têm nível de gerência e já atuam na área de sustentabilidade em sua empresa.
A Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, oferece um programa voltado exclusivamente para o assunto: Gestão Responsável para a Sustentabilidade. Dura oito dias, que são divididos em quatro módulos presenciais intercalados com atividades à distância.
O programa está em sua quinta turma, com dirigentes e gestores de diversas áreas. A idade desses alunos varia de 28 a 60 anos e 62% são mulheres. Na primeira edição, não foi identificado nenhum aluno que já trabalhasse na área. Mas, em 2007, 34% dos inscritos já atuavam em departamentos voltados para sustentabilidade, o que comprova o aumento da preocupação das organizações com a melhora das condições do planeta.

NO FUTURO, TUDO MUDA
Trabalhar com sustentabilidade é a profissão do futuro? Toda empresa terá um departamento para cuidar do assunto? Não exatamente. Consultores de carreira e especialistas explicam que:
1. Independentemente da profissão, você terá de dominar o assunto e tomar decisões pautadas pelo conceito de sustentabilidade. "Isso exige uma formação diferenciada", diz Mario Monzoni, coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.
2. Em relação aos departamentos, poderão ser extintos. Mas hoje é cedo demais para fazer uma afirmação dessas."As áreas tendem a crescer e podem desaparecer conforme a empresa incorporar o conceito", diz Clarissa Lins, diretora da Federação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.

 Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_251245.shtml?func=1&pag=1&fnt=9pt

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